Desde criança, Giorgio se interessava pelo sentido da vida. Era o pequeno um curioso sobre os mistérios da existência humana. O menino natural de Padova, norte da Itália, se deparava com uma urgência em desvendar como deveria viver: as nuances e fronteiras do seu existir. A escrita era uma válvula de expressão das emoções que afloravam de dentro do seu corpo. Seus diários exprimiam conflitos internos que foram descobrindo seu caminho através da poesia. Um pouco mais crescido, encontrou também pela voz a manifestação dos seus sentimentos; chegou a ser o vocalista de uma banda de rock.
Seus interesses, passando da infância à adolescência, se tornaram ecléticos. Tanto cursou estudos clássicos no colégio que incluía latim, grego antigo e filosofia como estimava as ciências e matemática. Decidiu estudar economia empresarial enquanto um amigo tentava convencê-lo de que deveria mesmo ingressar em física. Escolheu lidar com uma realidade mais concreta, mais prática da vida. Na universidade em Milão, seguiu em frente, porém muitas vezes com certo desinteresse. Não se apaixonou pelas disciplinas universitárias iniciais, mas o fascinava leituras privadas, especialmente de romances e filosofia.
Pensou em desistir de cursar administração; trocar de área. Arquitetura era uma opção, mesmo que não apresentasse tanta aptidão para o desenho. No entanto, deixou passar a data do exame de admissão. Escolher outro caminho era abandonar o que havia começado; um dilema árduo entre continuar o percurso escolhido e recomeçar do zero. Aspirou também entrar em uma escola de atuação como atividade paralela, uma das numerosas facetas de Giorgio.
Paralelamente, suas questões encontravam amparo nos livros que devorava. Os romances de Hermann Hesse ofereciam uma luz à sua busca. Tanto Narciso e Goldman quanto Sidarta o tocaram. Em O Lobo da Estepe, se deparou com as diferentes personalidades que há dentro de nós; uma espécie de conforto para aquele que leva tantos interesses dentro de si. O romancista juntamente com Friedrich Nietzsche injetavam entusiasmo pela língua alemã. Aprendeu o idioma e vislumbrou mudar-se para a pátria dos seus estimados escritores. Seguiu o conselho dos pais de encontrar um emprego antes de se arriscar em outro país; conseguiu rapidamente trabalhos em contabilidade e para lecionar em universidade, não mais os largando.
Além do alemão, se empenhou em aprender francês, espanhol, português e russo. Giorgio mergulha em cada cultura, ainda levando consigo aquele menino curioso sobre os mistérios da vida. Não estuda a língua somente por livros, aproveita as férias de verão para imergir-se no aprendizado. Já passou temporadas em Barcelona e em Buenos Aires para aperfeiçoar o espanhol; em Salisburgo e Munique para aprimorar o alemão; e em São Petersburgo para praticar o russo; tudo isso narrado em fluente português em São Paulo.
Talvez tenha um traço que se mistura ao de seus pais: ambos italianos que se conheceram na Rússia. A mãe é formada em filosofia russa; o pai em engenharia. Ela teve a oportunidade de trabalhar na embaixada italiana em Moscou. Encarou a decisão entre voltar à sua terra de origem para casar e uma vida livre na capital russa. Decidiu por retornar à Itália e começar uma família. A opção não foi engolida pela avó de Giorgio, mãe de sua mãe, que tentou convencer a filha a se separar e aproveitar a chance na ainda União Soviética.
Sua personalidade mansa tornou Giorgio o confidente da mãe. O garoto, afetivo e observador, ofereceu uma vez a ela sua atenção, que foi bastante apreciada em momento de uma depressão incompreendida que ela vivia. Sua disposição delicada abriu espaço para segredos guardados pela sua genitora. A confissão só veio, no entanto, após a morte do pai, de um infarto fulminante. A mãe revelou ao filho fatos que trouxeram mais compreensão à atmosfera familiar poluída que vivera e explicavam um tanto da melancolia que a mãe carregou durante anos.
Tempos depois foi a vez de Giorgio se defrontar com uma situação de ultimato: casar ou viver só. Após uma noite de pouco sono e muita agitação, decidiu que teria mais paz em solitude do que apostar em uma relação conturbada. Já bastaram as brigas constantes entre seus pais para se arriscar em mar revolto. Nos relacionamentos, prefere uma troca mais tranquila. Giorgio descreve seu amigo mais próximo desde a juventude como diferente de outros homens com que tem até relação sanguínea. Os companheiros de longa data compartilham ideias filosóficas e trocas de experiências de vida em uma presença terna.
A carreira sólida de Giorgio perdura como consultor contábil, auditor de empresas e professor universitário. Na pesquisa, se preocupa não somente com o desempenho financeiro, mas também com o impacto ambiental e social das corporações. Em paralelo, nutre seu trabalho na Lions Club, associação filantrópica em que atua desde a juventude. Encontra Giorgio o equilíbrio entre o lado prático da sua profissão ligada aos negócios, ao mesmo tempo em que vibra em seu interior o interesse pela filosofia, psicologia, budismo e yoga. A consistência profissional e as aventuras de aquisição de conhecimento sobre si e sobre o mundo se mesclam dentro desse italiano de alma sensível.