cientista da vida

A facilidade na área de exatas guiou Mariana para uma carreira acadêmica como pesquisadora e docente. Da graduação em engenharia química pulou diretamente para o doutorado em mecânica. Aplicou-se no desenvolvimento de novos materiais para reparos de defeitos ósseos. Com a trajetória profissional a mil, veio o stress ocasionado pela pressão por alta produção de artigos científicos e performance no cargo de professora universitária. A posição pesava e decorria na direção contrária de uma filosofia de vida mais equilibrada em que acreditava. Esgotada, Mariana considerou pedir sua exoneração. Evitando uma decisão permanente, porém, repensou e chegou a um meio termo – uma licença não remunerada pelo período de um ano para reconsiderar os rumos de sua vida.

Pouco tempo antes, Mariana recebeu em seus braços o primeiro bebê que segurou em sua existência – sua filha. Sem contato anterior com crianças pequenas, a vinda ao mundo de sua progênita trouxe um novo propósito. Já na gravidez, as concepções do parto mudaram para a acadêmica. No início, foi conduzida pela obstetria convencional que demonstrava propensão à cesárea. Pesquisando sobre o tema, o filme O Renascimento do Parto mudou sua forma de enxergar como o bebê havia de deixar seu útero. Uma obstetra humanizada a acompanhou a partir de então. Mariana foi aconselhada a lidar com seus medos durante o processo de gravidez para ter um parto tranquilo.

Havia o medo da dor e também da anestesia, já que não lida bem com injeções. Na única que tomou na vida, desmaiou. Terapia, yoga e meditação tornaram-se formas de apaziguar a ansiedade e trazer autoconhecimento. Com toda essa preparação, a vinda de Júlia ao mundo foi serena. Após algumas contrações em casa, deslocaram-se para o hospital; não demorou muito para a pequena apresentar-se para os pais e passar as primeiras três horas de vida no colo da mãe. Dar a luz a um serzinho como esse mudou a concepção de vida de Mariana. O parto desencadeou uma série de mudanças. O ritmo alucinado do trabalho deu espaço a questionamentos sobre como balancear os diversos aspectos da vida pessoal e profissional.

Natural de São José dos Campos, Mariana vê-se, no entanto, como campineira, já que a família migrou para Campinas quando ela era ainda criança. Cresceu acompanhando seu pai, físico, ao laboratório da universidade. Astuto, ele construía seus próprios equipamentos para pesquisa e alimentava a curiosidade da menina. Ao ser indagado sobre qualquer assunto, ao invés de responder, ele instigava sua filha a procurar as respostas de suas próprias perguntas. Assim já nascia uma pequena cientista dentro dela. A propensão empírica e científica durante a infância norteou seu futuro desenvolvimento profissional.

A crise que se instaurou com o excesso de trabalho e a recém-experiência materna direcionou sua reconstrução. A licença veio em boa hora. Nesse intervalo, pôde desenvolver-se em outra área, a da psicologia positiva. O marido também passou por uma crise semelhante com o esgotamento profissional, chegando à síndrome de burnout, o que o levou a pesquisar sobre inteligência emocional. Através da análise da situação de ambos, criaram uma empresa de desenvolvimento humano.

Com o fim do ano sabático, Mariana teve que encarar o retorno à universidade, mas estabelecendo um novo paradigma. Para ela, os conhecimentos refletidos de sua experiência pessoal poderiam ter um impacto maior se alcançassem os estudantes de engenharia. Introduziu sua proposta de inserir treinamento em habilidades socioemocionais na grade. Houve resistência do núcleo, principalmente da ala mais conservadora. No entanto, com perseverança, Mariana foi implementando seu plano de ação. Enquanto ela vai rompendo as convenções no ensino, os alunos apreciam competências de administração da vida que não aprenderiam em aulas de cálculo.

Os sonhos de qualidade de vida perduram. Mariana teve a oportunidade de morar em Barcelona, devido ao doutorado sanduíche, por seis meses juntamente com o marido que a acompanhou. Os dois se apaixonaram pela cidade. Voltaram como turistas e conheceram ainda mais a cultura local. Com o mar ao redor, a cidade catalã os acolhe. Apesar de grande, traz um ar de tranquilidade. Há a vontade de reviver esse estilo de vida espanhol. No entanto, do mesmo modo que Mariana pode deixar para trás seus títulos acadêmicos, ela também consegue adaptar-se a novos planos. Mais do que a aspiração de uma vida futura imaginada, situa-se a consciência do bem-estar do presente momento.