multiplicidade de ser

Quando sua filha, Sofia, nasceu algo mudou em Ivanez. Durante a gravidez não se sentia ainda pai. A imagem mental da ocasião fica guardada como um momento único que não poderia ser refeito como outras fotografias de viável reprodução. O momento de vinda ao mundo do pequeno ser alterou sua percepção. O contato até então era distante quando ainda no útero. Foi como se ele e ela estivessem desplugados e, na hora do encontro físico entre os dois, os fios relacionais se conectassem. Hoje com seis anos, a menina, um tanto independente e de personalidade forte, revela uma mistura entre características dele e da esposa.

Nascido em Currais Novos, no interior do Rio Grande do Norte, Ivanez desfrutou de uma infância venturosa. No bairro em que morava, jogava futebol e brincava de pega-pega livremente. A proximidade com os demais moradores trazia o aconchego de uma cidade pequena. No entanto, o elo com sua terra natal se rompeu com a mudança da família, por conta do trabalho do pai, para o Rio de Janeiro. A vida na capital fluminense gerou desafios sinuosos. Aos 15 anos, o adolescente potiguar não se adaptava à falta de liberdade imposta pela rotina carioca. O ambiente se revelava hostil como na escola em que convivia com alunos envolvidos com o tráfico de drogas. O contato com os habitantes da Cidade Maravilhosa também se apresentava adverso. Os locais não eram tão abertos quanto Ivanez esperava, mas ele se questiona também se não era ele que se fechava para as novas amizades.

Sua jornada de vida contou com diversas mudanças pelo território brasileiro. Junto com o pai, mãe e duas irmãs, migrou do Rio de Janeiro para Salvador e de Salvador para Fortaleza. No interior de Ivanez crescia uma vontade de colocar para fora o que se passava dentro de si. Ele tinha dificuldade em se expressar quando jovem e muitos conteúdos não ditos permaneciam guardados e em ebulição. A relação com o pai até a juventude foi um tanto distante. A ponte entre os dois se estreitou por um movimento de aproximação de Ivanez para com seu genitor. Da mãe herdou a praticidade e a disciplina.

As ideias propulsionadas por suas experiências de vida alimentaram o sonho de escrever um livro, mesmo a escrita sendo algo distante em sua vida. Com a impressão sequencial de letras, Ivanez acredita que, ao contrário das palavras ditas, as cravadas no papel perduram. Decidiu executar o manuscrito, com o lançamento do mesmo em 2019. Nele, faz uma analogia entre a construção de uma casa e o desenvolvimento pessoal que vai desde as fundações até a mobília, a última fase da feitura de si.

Em sua mente, flutua um mar de ideias; seu corpo produz força de ação para realizar o que atravessa seus neurônios. Profissionalmente já tocou restaurante, teve empresa de tecnologia, de desenvolvimento de aplicativos e até de realização de casamentos. Observador, Ivanez encontra ao seu redor motivos para melhorar a eficiência de qualquer empreendimento. Recentemente, passou a usar sua habilidade para prover mentorias de negócios.

A efervescência das abstrações que ocorre em seu cérebro, porém, não é fácil de lidar. Ivanez porta uma multiplicidade que, diversas vezes, o atrapalha. Há flechas mentais que apontam em diversas direções, muitas delas, contrárias. Na ânsia de realizar tudo o que pensa, já se encontrou no vácuo. Com o excesso de propósito ocorre a perda de foco ou, inclusive, uma paralisação generalizada. Em um momento de angústia e crise no relacionamento bem como na vida profissional, Ivanez teve um colapso de suas funções. Deparou-se com o vazio. Nessa ocasião, mudou-se para a praia, onde, ao longo de seis meses, processou o que ocorria em sua vida.

Após o hiato, Ivanez reatou com a esposa e recomeçou suas empreitadas. Voltaram com mais cumplicidade, entendendo melhor a natureza de cada um, e com uma vontade maior de ajudar o outro a realizar os seus sonhos. Formou-se também um compromisso interior com o que acredita, o desejo de trabalhar naquilo que é importante para ele. Colocou como meta arrumar os dentes para um sorriso mais tranquilo e também focou em perder peso do seu corpo que acumulava 128 quilos por conta de hábitos não saudáveis. Objetivos esses que foram cumpridos em um trato que fez consigo mesmo. Ivanez enfrenta o medo de parar, de se conformar e não evoluir mais. Atualmente, ele planta sementes para o futuro, mesmo outros não enxergando suas intenções. A sua germinação interior o guia com fugacidade.