xadrez cósmico

Dara nasceu no Havaí. Filha de pai americano e mãe brasileira, ela cresceu em uma família nuclear que se identificava com um estilo de vida mais despojado. O pai era músico e a mãe predisposta a aventuras. Com a irmã mais velha e o irmão mais novo, Dara brincava pela natureza local. Exploravam o ambiente que continha diversos elementos como o solo da região que era composto por pedras vulcânicas. Cada um deles escolhera uma goiabeira para chamar de sua. Colhiam e comiam a fruta de seus determinados pés. Uma variedade de animais de estimação, composta por cachorro, gato e coelho, também preenchiam a casa e a rotina familiar.

Quando Dara tinha nove anos de idade, os pais decidiram levar a família para morar no Brasil. Com parentes em Minas Gerais, lá ficaram até uma mudança definitiva para Arraial d’Ajuda, na Bahia, onde a família já havia comprado um terreno e parentes possuíam casas. A vida escolar de Dara era diferente da da maioria das crianças já que tinha aula na própria praia. A natureza continuava a fazer parte da vida dela. Pavões e cavalos faziam parte do cenário local. No ensino médio, pela falta de instituição de ensino para tal idade no vilarejo, pegava a balsa diariamente para estudar em Porto Seguro. Sob sol ou chuva, lá estava a garota fazendo a travessia.

Aos 18 anos, Dara voltou a morar no Havaí com a família. O modo hippie de viver dos pais imprimia certa dificuldade de moradia. A infância na Big Island já havia ocasionado desafios como o incêndio de uma das casas que viviam que os fez ter que sair às pressas. Não tinham eletricidade a não ser por gerador nesses tempos. Enquanto na infância os percalços faziam parte de uma grande brincadeira, no retorno ao Havaí, as adversidades foram mais sentidas pela jovem. A família chegou a morar até em barracas de acampamento em alguns momentos de falta de teto.

Desde a infância, Dara tinha o desejo de se tornar médica. Fez faculdade na área de biologia molecular e química. Com receios quanto à sua capacidade de entrar em disputadas instituições para o estudo de medicina, preferiu aproveitar a vida de outra forma após a graduação. Partiu para um mochilão na Europa. Depois da viagem, explorou a vida em lugares diferentes do mundo como na Espanha e no Brasil. Após alguns anos de experiências múltiplas, resolveu buscar a realização do sonho antigo de estudar medicina.

Entrou em uma universidade internacional de medicina e os estudos se tornaram online com a pandemia. Dara se prepara para um importante exame na área. O próximo passo depois disso é um treinamento prático em um hospital americano. O local ainda não está definido e ficará entre os estados de Nova York, Califórnia e Flórida. Enquanto seu intuito inicial era de seguir para a área de medicina da mulher, seus desejos mudaram com o tempo. A medicina da família e preventiva ganha força dentro dela. Sonha, no futuro com oportunidades de trabalho proporcionadas por organizações como Médico Sem Fronteiras.

Apesar da instabilidade dos pais, Dara desenvolveu um senso de estabilidade que a guia em sua vida. Centrada, ela concentra internamente uma constância que reflete na sua maneira de viver. Mesmo mudando de país em país, existe em Dara fundamentos sólidos. As pessoas ao seu redor também proporcionam experiências que agregam em sua vida. Com o parceiro da época que nutria sua espiritualidade pôde mergulhar em práticas com o uso de cogumelos. O que se apresentou para ela foi um xadrez cósmico possibilitado pela prática.

Nos rituais que participou, sentiu expandir seus horizontes. Névoas se desvaneceram, dando lugar a uma nitidez no enxergar de sua história e de seu momento de vida. Os medos quanto ao futuro e as escolhas profissionais se desfizeram. Deu-se espaço para a flexibilidade. Os caminhos escolhidos não importavam tanto, pois os fins seriam similares. Em uma imagem projetada da família, o papel de cada membro se tornou claro e até influenciou a decisão de passar um tempo no Brasil, próxima às tias maternas para uma troca importante para todas elas.

Os estudos remotos ainda permitem Dara não ter um lugar fixo. Ela carrega com ela o espírito de vida nômade. Sente-se presa se tiver que ficar em um único lugar por um grande período de tempo. A fluidez da mudança leva Dara a novos e antigos caminhos. Com família e amigos espalhados pelo mundo, não há lugar que não possa se transformar em casa. Apesar de ter crescido em áreas de natureza abundante, sua alma cosmopolita faz com que procure cidades grandes para se estabelecer. Isso até a próxima jornada. Os percursos constroem a sua existência e o tempo apreciado em cada pedaço de mundo que escolhe chamar de lar.